SILÊNCIO E VOZES

SILÊNCIO E VOZES

Neste abismo de silêncio.
Deixa-me sepultar os nossos medos
Deixa-me sonhar junto de ti
Deixa-me sentir a doçura dos teus dedos.

E mesmo que despertes este meu pranto
Neste gesto de chorar que me enruga o rosto
Enche-me de calor com o teu corpo
Enxuga-me as lágrimas com o teu manto.

Neste silêncio que percorro incógnito
Nesta vida em que riem as visões
Deixa-me superar as vozes fatídicas
Feitas de olhos claros de azuis tentações
Que tomam o corpo e fazem o coração refém
Asfixiado na prepotência e no cruel desdém
Que se alimenta como um proscrito
De angústias e temores, de quem está aflito.

Deixa-me ser alquimista e combater o silêncio do teu mal
Deixa-me sentir a mística e o pulsar do cálice da vida
Mesclado de água, terra, fogo, ar e condimentado com a magia
Perdida nos rituais ancestrais da pedra filosofal.

Deixa o sonho nos braços do Morfeu e procura outra via
Rompendo esse silêncio de tons escuros e profanos.
Encontra a alegria no meu peito e o conforto para tantos danos
E mesmo que não seja verdade, e, mesmo que eu esteja errado
Escuta o som do coração de quem ama, e, a razão de quem é amado.

Neste abismo de silêncio de campânulas negras retorcidas
Escuto as vozes do pensamento, soltas sórdidas e vencidas
Em sussurros sonolentos umas às outras vão contando
Que as lágrimas no teu manto são os sais da harmonia
E que o sentimento do meu pranto é querer, é vida, fantasia
É o sol da minha pena, é a força do meu poema, é um toque de magia.

É o calor da minha mão e o doce afago dos teus dedos
Que tocaram as nossas almas e afugentaram os medos
E num brusco movimento, filhas de um ego descontente
As vozes fundiram-se no silêncio e partiram para sempre.

João Murty

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