Prosa Poética

No curso do amor

Antes de o ser
 
já o vento transportava
 
toda a minha inspiração
 
algemada num sopro de vida
 
prá lem das fronteiras que nos
 
separam, implacáveis
 
impreteríveis
 
 
- As rotas seguiam
 
o mesmo rumo de sempre
 
marginais à maresia
 
em constante dessalinização
 
nos mesmos mares

O tédio do silêncio

Os olhos olhando-te
 
repousam serenos
 
na consolada alma que
 
me tinge os poros de coloridos
 
cantos perfumados com tua graça
 
esbelta,desafogada
 
em que revivo cada instante perene
 
que corre em tua peugada
 
 
– O mar esmaga-me nas ondas
 
continuas que flamejam de emoção
 
A vida em fuga
 

Fluindo em ti

Foi-se a vida repartida
 
em prantos flamejantes de mim
 
tecido em velados cantos pagãos
 
reescritos nos melhores
 
dicionários onde plantámos
 
nossa língua mãe
 
regulamentada em cachos de amor
 
servidos a cada instante
 
que te saboreias em mim
 
fluindo tanto rio em nós
 
 
– Depois de tantas primaveras

Outros olhares

Retirei hoje da solidão
 
pequenos prantos de tristeza
 
que disseram adeus àquela
 
saudade
 
preciosamente arrumada
 
na prateleira deteriorada
 
nas ténues horas silenciosas
 
endereçadas via postal
 
sem remetente, nem mais inspiração
 
 
- Amanhã absorvemos renovados
 
aqueles teus adornos de beleza

Mãe

Se precisar subitamente de confiar em alguém,
Aflitivo momento de arriscar, porém,
Relembro-me o porquê de não confiar em ninguém.
Na avareza infalível de fazer o que convém,
Submeto destreza incrível que mais ninguém tem,
A esperteza inteligível de imitar a minha mãe.
Num discurso credível que me liberta refém,
E me relembra o porquê de não confiar em ninguém.
18-06-2013

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