Saudade

Recordações

Levantei-me suavemente,

Quase sem dar por mim iniciei a minha jornada

Com os pés assentes na terra e o olhar pregado no céu

Caminhei sentindo a brisa por entre os meus cabelos

E os raios de sol a beijarem a minha pele

Olhei de novo à minha volta

E vi a vida a florir

Ouvi o riso das crianças

As lamentações dos perdidos nas encruzilhadas

E até as saudações dos altivos,

Senti a nostalgia no rosto carcomido dos velhinhos

A fragrância perfumada das folhas de Outono

Apenas palavras soltas

Palavras soltas

Ideias loucas, vãs e carregadas de memórias

Memórias de tempos já idos e jamais reencontrados

Olhando serenamente, sentindo-me cristalizar

No quadro ceifado pelas mãos da minha filha

Revejo o olhar cansado e amargo

Do tempo em mim nunca perdido.

Noite molhada,

Céu ensombrado de tempestade e revolto em águas mil

Noite apenas sentida e não vivida

Peço-te a benção, Terra Mãe

Neste Natal esquecido nas brumas da memória

E vivido eternamente pelo meu ser

Afago

Apenas afago

Ternuras abraçadas no teu olhar

Pensamento que fugaz foge no seu etéreo caminho

Carícias perdidas no tempo por passar

Na ponta dos meus dedos percorre imensa a saudade

Memórias transparentes de sonhos por viver

E jamais apagados na bruma da noite

O teu olhar transbordante de vida e cor em mim pousou

E o canto singelo do pássaro

Ecoou na minha alma de ninguém

Um raio de sol cintilante

Minha coragem de viver afagou

Tua amargura em mim pousou

Longínqua memória

Naquela distante esquina

 

Onde a morte encontra a vida,

 

Olhei o flagrante rosto de um velho

 

Mil rios sussurrantes salpicavam o seu olhar

Inebriante de cores infindas

As suas rugas exaltavam a dor

Que de mãos dadas comigo percorreram o caminho,

E na noite mais escura da minha alma

Abracei o mundo estendido no efémero sol

Que o meu sonho suavemente desenhou

Sentindo apenas o cristalino som que me preenche

Mãe

Queria fazer-te o mais belo poema de amor
Pois sem o teu sorriso a vida não me abraça
Estás presa no meu coração e jamais partirás,
Apenas a tua delicada mão para mim estendida
Imaculadamente a pedires-me o teu perdão.
Nunca de mim partirás, apenas o rosto da morte de ti me separou,

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