Prosa Poética

Última fascinação

Envolvo-me em teu fogo
 
coberto de lavas incandescentes
 
tropeço no magma que geme
 
ardente encosta abaixo
 
percorrendo teu corpo audaz
 
em migrações tão loucas
 
afogando-me
 
com aquele ópio com que
 
perfumas todas as saudades
 
onde moram nossos felizes assédios
 
 
Fascina-me esta noite
 

De volta ao teu lugar

Hora pra sonhar
 
Hora de retorno ao teu lugar
 
Hora de reescrever todas as
 
sílabas em versão poética
 
entoando nossos hinos comemorando
 
cada exacerbado adeus
 
cada gomo de saudade nos meus
 
silêncios quase interditos a ti
 
e onde
 
sorrateiramente me escondo encastrado
 
entre beijos e abraços gerados

Lamento

Lamento por essa onda que vai morrendo
 
devagar
 
por entre outras ondas do mesmo mar
 
Lamento que de depois da vida
 
a vida agora toda ela
 
se escoa numa onda
 
rasgando minhas maresias
 
quando tombo todo eu
 
a teu estibordo
 
e de mansinho me banhes
 
com estrondos e silêncios
 

Por fim a cura...

Dos males que a vida, por vezes
 
impotente devora em meu corpo
 
resta somente buscar na enfermidade
 
do tempo
 
a cura possível
 
sem mais padecimentos
 
nesta epidemia onde enfermo
 
o corpo regurgita em cada segundo
 
deprimidos risos
 
escondidos numa célula
 
que prolifera nesta química activa
 

Ecos em comunhão

Ver-te neste sonho iluminado
 
é sentir  a luz que reentra pela fresta
 
dos ecos quase impalpáveis
 
clareando aqueles dias originais
 
unindo-nos numa combustão
 
fraterna…quase Divinal
 
 
É a fome de minha’alma percorrendo
 
todas as artérias em coesão
 
rumo às alegrias que por lá
 
deixámos em comunhão
 

Pelos atalhos do tempo

Cambaleei dobrando todos
 
os atalhos do mundo
 
levando meu corpo empanturrado
 
com dores e despertares
 
atentos ao cansaço da vida
 
que nos foge em vertigens
 
sem alaridos nem desalentos
 
mas purificando aquelas promessas
 
transitando dia a dia em ondas
 
fisionómicamente bafejadas de amor
 

Cartografia de uma lágrima

Amigo sejas meu
 
em todas as horas
 
que me sustentas nas tuas existências
 
Que me fazes nunca chorar
 
pois comigo padeces
 
elaborando a cartografia
 
de minhas lágrimas sofridas
 
em rimas e maresias saudadas
 
em teus mares onde navego de mansinho
 
num manto de palavras
 
que arquivo em cada onda
 

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