Prosa Poética

Caminhando na noite

Vou a sós
 
caminhando na noite
 
transpirando todo
 
meu tempero poético
 
onde laivos
 
de chuva regam de mansinho
 
cada dobra de tempo que se
 
esvai, multiplicando nossa fé
 
engolindo esperanças
 
suspirando cada cantiga
 
que se descalça em alvoradas
 
de encanto, confidências
 

Unânimidade

Solta-se aqui
 
uma pétala de rosa
 
solitária
 
como se soltam nos ventos
 
sedosas brisas num tempo
 
onde compartilhamos
 
promessas
 
existências e fragrâncias
 
reflectidas na sonoridade
 
do horizonte que foge
 
em silêncios  coesos
 
enrroscados  a cada gentil perdão
 

Ao Mendigo...

Ao mendigo...

Já não se perguntam porque não conseguem chorar
Secaram-se-lhes as lágrimas no desespero dos seus sonhos
Creio que até já nem conseguem viver
Vagueiam no delírio das ilusões perdidas
Caminham na solidão das suas imperfeições
Assustam-se com possíveis confrontações
E se calhar até já nem querem ouvir
Nem sorrir
Esgotam os dias no refúgio de leitos improvisados
Debaixo de pontes e outros lugares assim
Esqueceram quem são
Ou pretendem não lembrar
Já não alimentam a ideia de voltar à vida
À vida real
Preferem continuar ausentes
E não voltar a sonhar
Acordados

AC

Tempestade...

Tempestade...

As gaivotas anunciam...há tempestade no mar.

Porque te aproximas?!

Porque desafias os teus instintos!..

Porque tentas ser irreal?!

Eu sei que a vida é curta, que às vezes fazer asneiras parece normal!

Mas será que a vida precisa desses desafios?

Precisamos contrariar o bem para saber o que é o mal?

Não, não vás por aí.

Procura o teu caminho...sente-o.

Escuta os sinais que são vitais...

Não, não somos apenas animais...

Somos racionais e precisamos de ler nas entrelinhas e pensar bem mais além.

Precisamos saber que se fizermos sofrer os outros, viremos nós a sofrer bem mais.

Que mais precisas de ti?

Que ilações queres tu tirar?

Não sabes, que se muito te aproximares a vida te poderão roubar?!

AC

Passo a passo

Passo a cidade
 
a pente fino
 
rebusco nas ruas
 
o rumo das direcções
 
antes proíbidas
 
transito todos os semáforos
 
ao longo da via com
 
sentido único
 
 
– Enterro na lápide do tempo
 
todas as esperanças
 
possuídas na dimensão
 
de uma clemência fortuíta
 

Num ápice

Degostei a tempo
 
todas as rimas
 
entre solenes versos
 
alucinados
 
tranquei tuas brisas
 
errantes entre portas
 
franqueadas e saciadas de solidão
 
 
– Deportei o tempo
 
num ápice
 
amarrotei a miséria esquecida
 
num mar de decepções
 
rumo ao poente onde
 

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