Prosa Poética

Oceanidade

Sejam benditos
 
teus tons em instrumentais
 
vozes de mestria
 
reflictam nossos corações
 
todo poente musicado
 
em canções sem palavras
 
rimem os compassos ternos
 
proclamando a gentileza dos
 
teus suaves acordes
 
resgatando nossas liberdades
 
na completa redenção
 

Com vista sobre o mar

– Conto desembarcar
 
ali onde domesticamos
 
os portos de abrigo
 
noivando eternamente
 
tanta formosura demarcada
 
em ondas assediadas de amor
 
com vista sobre o mar
 
 
– Se há belezas
 
então demarquem
 
este tempo com fulgores
 
inesquecíveis
 
transitem entre nós
 

Estes Caminhos...

Por estes caminhos
 
sigo o dia inteiro
 
aguerrido expurgando de vida
 
meu desânimo escondido entre
 
tantos lamentos consumidos
 
sem tréguas em demasia
 
 
Por estes caminhos
 
sigo colhendo toda
 
surpresa inusitada
 
concedida e cuidada
 
neste edifício onde reerguemos
 

Indo nos ventos...

– Indo nos ventos
 
recolho furtivo teus incertos
 
beijos mesmo ali à beirinha
 
onde me deixaste proscrito
 
na rota apetecível dos sorrisos
 
despidos em escadaria
 
em travessias
 
pelo tempo que resta
 
onde por fim me liberto
 
e o mar
 
regurgitando minha poesia
 

Tempo de súplica

Desatei às portas da noite
 
o nó de meus nómadas
 
arredores vadios
 
contornei as ânsias
 
no espaço livre que me ofereces
 
 
   Enlacei este dia
 
com fios de vida acorrentados
 
à fome que alimenta a fartura
 
de tantos desejos insânos
 
 
  Soltei as rédeas
 
em cada verbo mais livre

Há em mim

Há no céu tanta
 
ânsia cativa em movimentos
 
extasiados
 
tantas tranjetórias frenéticas
 
desenhadas na maciês deste
 
constante devaneio afluindo à tona
 
em noites vestidas de purpura
 
num poema trajado de olímpicas quimeras
 
onde nasce o dia grisalho
 
tatuado em bálsamos musicados
 

Em trânsito...

Desabotoei de mansinho
 
as cores e o destino que desvanece
 
na tarde
 
lembrando o contorno de cada palavra
 
ouvida e sentida nas preces errantes
 
 
– Decorei um mundo de
 
perguntas que nunca fiz
 
arrastando as horas
 
até ao declive onde morre o tempo
 
elaborei todas as respostas
 

À beirinha do mar

Ficarei assim
 
à beirinha do mar
 
quando assim me procurares
 
abrindo as portas da vida
 
no regresso abreviado
 
onde em formosas cascatas
 
te faço primavera afeiçoada
 
 
À beirinha deste mar
 
iremos
 
tu e eu, amainando os
 
mesmos leitos onde correm
 
nossos rios
 

Com três palavras

Pois então
 
o que direi  somente
 
com três palavras apenas
 
se meus silêncios
 
calarem fundo
 
todo e qualquer sinónimo
 
na inconformada ausência
 
que entrelaçámos no tom
 
boémio das fascinadas canções
 
 
Que direi então
 
quando farejando a noite
 
te atrair à Lua comovida

Fossem meus olhos...

Fossem meus olhos
 
bordados nos imensos céus
 
onde pairam os silêncios teus
 
e então trocaria de vez
 
o sentido impaciente com que descrevo
 
nossa entrega
 
sem indiferenças nem contemplações
 
à luz de plenas
 
recompensas e escravizantes ilusões
 
 
– Que me ornamentes as palavras
 

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